O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos representa um impacto significativo para a agenda climática global, levantando preocupações entre especialistas e ambientalistas. Conhecido por sua oposição a restrições ambientais e apoio ao setor de combustíveis fósseis, Trump tem uma postura que vai de encontro aos esforços internacionais para combater a crise climática.
Um Histórico de Retrocessos e Negacionismo Climático
Em seu primeiro mandato, de 2017 a 2021, ele revogou mais de 100 regulamentações ambientais, incluindo proteções para áreas com espécies ameaçadas e limites de emissões de gases de efeito estufa, enfraquecendo a estrutura de proteção ambiental americana e acelerando o aquecimento global.
Um dos pontos mais críticos foi a retirada dos EUA do Acordo de Paris, pacto global de 2015 que visa limitar o aumento da temperatura média global. Essa saída atrasou os avanços necessários para manter o aquecimento global abaixo de 2°C e, preferencialmente, limitar o aumento a 1,5°C, segundo as metas estabelecidas pela COP21.
As Consequências Irreversíveis para a Biodiversidade e para as Gerações Futuras
Durante sua campanha, Trump manifestou sua intenção de novamente abandonar o Acordo de Paris, caso reeleito, e apoiar o desenvolvimento de fontes de energia poluentes como o petróleo e o gás natural. Essa postura ameaça minar não apenas os esforços dos Estados Unidos, mas também desestimula a cooperação internacional para a redução das emissões globais, dado o peso econômico e a influência política americana.
A comunidade científica destaca que, sem a cooperação dos EUA — segunda maior economia e um dos maiores emissores de gases de efeito estufa —, torna-se ainda mais difícil evitar o aumento da temperatura global para níveis catastróficos. Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP, aponta que, sob a administração Trump, as emissões americanas voltaram a subir, comprometendo as reduções alcançadas no governo Obama. Esse aumento é particularmente preocupante, uma vez que o país exerce influência substancial sobre políticas climáticas internacionais, estando no topo dos emissores de gases e do financiamento climático global.
Compromisso ou Catástrofe?
A retórica de Trump também promove uma desconfiança em relação às mudanças climáticas e ao investimento em tecnologias limpas, como veículos elétricos e energia eólica. Ele já expressou desdém por essas alternativas, considerando-as uma “farsa verde”. Além disso, a administração Trump reduziu as metas de eficiência para veículos automotores, facilitando o consumo de combustíveis fósseis e intensificando as disputas com estados que adotaram limites mais rigorosos, como a Califórnia.
O impacto potencial de um segundo mandato de Trump na agenda climática global é alarmante. Bill Hare, da Climate Analytics, considera sua eleição “extremamente perigosa” para o planeta, alertando que seu retorno à presidência pode afastar ainda mais os EUA das negociações com grandes emissores, como a China, aumentando a fragmentação das ações globais. Essa ausência de cooperação internacional ameaça os esforços para manter o aquecimento em níveis controlados, especialmente num contexto onde cada vez mais se discute a necessidade de ações coletivas e urgentes.
Como o retorno de Trump afeta o Brasil
No Brasil, a vitória de Trump pode afetar diretamente o Fundo Amazônia, um importante mecanismo de financiamento para a preservação da floresta tropical. Embora o governo americano tenha prometido contribuir com US$ 500 milhões, pouco desse valor foi realmente repassado. Com Trump no poder, o apoio financeiro ao fundo pode ser ainda mais limitado, comprometendo iniciativas cruciais para a conservação da Amazônia, que é essencial para o equilíbrio climático global.
Diante das crises climáticas que se agravam a cada ano, a perspectiva de uma nova administração Trump representa não apenas um retrocesso, mas uma ameaça ao futuro do planeta. Em um momento crítico para as políticas globais de sustentabilidade, as ações de líderes mundiais não podem mais ignorar a urgência de proteger a vida e os ecossistemas. Se os Estados Unidos, uma das nações mais influentes e emissoras de carbono, abdicarem de seu compromisso com o combate às mudanças climáticas, o impacto poderá ser devastador e irreversível.
Cabe à sociedade americana refletir sobre as consequências de um caminho de negação, colocando em xeque não apenas o presente, mas o legado que será deixado para as próximas gerações. E cabe ao resto do mundo ser oposição; respondendo com a mesma responsabilidade, assumindo uma postura de oposição construtiva e comprometida, pressionando por ações globais que realmente enfrentem a crise climática e protejam o planeta que todos compartilhamos. O futuro do planeta, agora mais do que nunca, exige uma liderança consciente, engajada e determinada a proteger a Terra e a humanidade de uma catástrofe anunciada.
Mas e agora? É só choro e ranger de dentes com o retorno de Trump?
Apesar desses desafios e de toda preocupação, especialistas acreditam que a transição para uma economia de baixo carbono continua em andamento, impulsionada por pressões econômicas e sociais. Laurence Tubiana, uma das principais arquitetas do Acordo de Paris, observa que o contexto atual é diferente de 2016. O impulso econômico para uma transição energética global é mais forte, com diversas cidades e estados americanos comprometidos com ações climáticas e firmes em manter essas metas, independentemente da posição federal.
Enquanto a vitória de Trump representa um revés significativo, movimentos ambientais e governanças locais indicam que a luta por um futuro sustentável persistirá. Organizações como o Greenpeace e o America Is All In, coligação de estados e cidades comprometidas com o clima, prometem intensificar seus esforços para preencher a lacuna deixada pelo governo federal. Como alerta Gina McCarthy, ex-assessora de clima de Biden, “não vamos permitir que Trump impeça o avanço de um futuro mais seguro e saudável para nossos filhos e netos”.
Fontes:
The Trump Administration Rolled Back More Than 100 Environmental Rules. Here’s the Full List.
‘A wrecking ball’: experts warn Trump’s win sets back global climate action
Acordo de Paris e emissão de combustíveis fósseis: como a vitória de Trump impacta no meio ambiente
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