Hobbies são frequentemente considerados apenas formas de diversão ou fuga da rotina. No entanto, estudos sugerem que esses interesses pessoais vão além do entretenimento: eles podem impactar de forma significativa a carreira, tanto positiva quanto negativamente. A investigação científica sobre o papel dos hobbies na vida profissional tem se aprofundado, revelando fatores que fazem desses momentos de lazer fontes de renovação ou de estresse. Tudo vai depender de fatores como: a seriedade com que se encara o hobby e a semelhança entre as habilidades e demandas envolvidas no trabalho e no lazer. A seguir Vamos aprofundar um pouco mais no tema.
O Papel dos Hobbies na Autoeficácia e Resiliência no Trabalho
A teoria da Conservação de Recursos (COR) nos oferece um ponto de partida para entender como os hobbies influenciam a carreira. Segundo essa teoria, as pessoas buscam proteger e expandir seus recursos pessoais, como energia, resiliência e autoeficácia. Ao praticar hobbies que realmente gostamos, acabamos por melhorar nossas habilidades/recursos que, por sua vez, nos ajudam a enfrentar os desafios da carreira.
Por exemplo, o estudo “The relationship between leisure activities and psychological resources that support a sustainable career” apontou que um aumento no tempo gasto com hobbies pode afetar a autoeficácia — a confiança nas próprias habilidades — tanto de forma positiva quanto negativa. Em outras palavras, se o hobby gera prazer e energia, ele contribui para que o profissional se sinta mais confiante em suas competências. Contudo, quando o hobby traz desafios excessivos, ele pode drenar a energia ao invés de renová-la.
Seriedade do Hobby: Como o Comprometimento Afeta o Trabalho
Quando se fala em hobbies, existe uma diferença entre atividades que fazemos “por fazer” e aquelas em que realmente mergulhamos. Essa distinção é conhecida como “seriedade” do hobby – quando um indivíduo leva seu hobby a sério, ele se envolve profundamente, com disciplina e dedicação. No entanto, essa seriedade pode tanto enriquecer quanto interferir no trabalho.
Se, por exemplo, um engenheiro com paixão pela fotografia dedica-se a essa atividade com intensidade, ele pode desenvolver paciência, atenção aos detalhes e habilidades criativas, que são transferíveis para sua profissão. Esse tipo de hobby, que exige comprometimento e envolve uma paixão genuína, ajuda a expandir recursos psicológicos, como a capacidade de foco e resiliência.
Por outro lado, quando o hobby se torna um “segundo trabalho”, consumindo grandes quantidades de tempo e energia, ele pode interferir nos níveis de autoeficácia profissional. Esse efeito ocorre especialmente se a atividade de lazer for muito parecida com o trabalho. Nesse caso, ao invés de funcionar como um escape, o hobby pode se tornar uma extensão do trabalho, levando à exaustão.
Semelhança entre Trabalho e Hobby: O Lado Positivo e o Perigoso
Um dos aspectos mais intrigantes revelados pelo estudo é o impacto que a similaridade entre o hobby e o trabalho pode ter na autoeficácia. Se o hobby compartilha semelhanças com o trabalho em termos de habilidades e demandas, ele pode tanto ajudar quanto atrapalhar a carreira, dependendo da seriedade com que o profissional o encara.
Para ilustrar, imagine uma professora que tem como hobby dar aulas de yoga. Por ser uma atividade semelhante ao seu trabalho, esse hobby pode contribuir para a autoeficácia dela no ensino, promovendo uma prática relaxante que, ao mesmo tempo, reforça suas habilidades de liderança e comunicação. Porém, se essa mesma professora se compromete profundamente com o hobby — dando muitas aulas e assumindo responsabilidades adicionais — o hobby pode começar a gerar estresse e fadiga. Dessa forma, o que era para ser uma atividade de renovação acaba afetando sua performance e bem-estar no trabalho.
Hobbies Que Realmente Desconectam: Quando a Diferença é Essencial
Por outro lado, hobbies que têm pouca ou nenhuma relação com o trabalho tendem a ser mais eficazes na restauração de energia e na construção de resiliência. Esse é o caso de um advogado que pratica jardinagem ou de um médico que faz marcenaria. Essas atividades são uma pausa real das demandas e habilidades exigidas no trabalho, permitindo que o profissional descanse e volte ao trabalho com energia renovada.
De fato, o estudo destaca que quando os hobbies são muito diferentes do trabalho e exigem menos seriedade, eles podem ajudar os profissionais a se desligarem das pressões e responsabilidades do trabalho. Essas atividades têm menos chances de se transformar em fontes de estresse, servindo como uma forma eficaz de recuperação e de aumento de autoeficácia, pois geram uma sensação de realização e prazer sem pressionar o indivíduo.
Hobbies Físicos: O Benefício Duplo para o Trabalho e o Bem-Estar
Além dos impactos psicológicos já discutidos, hobbies físicos também podem ser um recurso valioso na construção de uma carreira sustentável. Ao escolher um hobby que envolva atividade física, como correr, nadar ou praticar yoga, o indivíduo não apenas investe no cuidado de sua saúde, mas também fortalece recursos psicológicos essenciais, como a resiliência e a autoeficácia. Esses benefícios são ampliados pela liberação de endorfinas e pela desconexão do trabalho, criando uma pausa mental que contribui diretamente para um melhor desempenho profissional. Em vez de um simples passatempo, atividades físicas bem escolhidas oferecem o que poderíamos chamar de um “benefício duplo”: cuidam do corpo e da mente, facilitando a recuperação dos recursos psicológicos necessários para o sucesso a longo prazo.
Como Escolher o Hobby Ideal para Equilibrar Trabalho e Bem-Estar
Tendo em vista a complexa relação entre hobbies e carreira, surge a pergunta: como escolher o hobby ideal? A ciência sugere que, para se beneficiar de um hobby sem correr o risco de esgotamento, é recomendável:
- Variar as atividades: Alternar entre hobbies que se parecem com o trabalho e hobbies que não têm qualquer relação pode trazer equilíbrio. Essa alternância ajuda a evitar que o hobby se torne mais uma fonte de demanda.
- Estabelecer limites saudáveis: Especialmente quando o hobby envolve compromisso e seriedade, é importante definir limites para evitar que ele se torne uma “segunda carreira”.
- Permitir-se experimentar: Se a seriedade em uma atividade de lazer começa a ser desgastante, experimentar algo novo e relaxante pode ser uma ótima opção.
A relação entre trabalho e hobby é rica e multifacetada. Os hobbies podem ser fontes de rejuvenescimento, resiliência e autoeficácia, contribuindo para uma carreira sustentável. No entanto, a chave está em escolher e gerenciar bem essas atividades de lazer. Se você encontrar um hobby que ame, invista nele, mas sem deixar que ele se torne um novo compromisso pesado. E lembre-se: você não precisa ser bom, só precisa gostar de fazer. O hobby não precisa ser mais uma cobrança de performance, podemos praticá-lo simplesmente por gostar da atividade. Afinal, o objetivo é que o hobby seja uma válvula de escape — uma maneira de reabastecer as energias e, quem sabe, descobrir novas habilidades e paixões ao longo do caminho.
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